A história de Marcelo “Bisnaga” e seu model de shape. Agora na exposição virtual Cara-da-Tábua

Marcelo ‘Bisnaga’ @ganamlb é skatista carioca radicado em Curitiba desde os anos 90 e fez parte da cena paranaense, onde é presente até hoje. Esteve em algumas marcas e entre elas foi parte da equipe da Vândalo junto com @ricardomacieldecarvalho, @kamau_ e Fábio Black @brakko_costa, entre outros.  Por volta de 1992 Marcelo teve seu ‘model’ de shape lançado pela marca. Neste relato ele nos conta de sua trajetória e como pensa o skateboard, registrando assim seu shape na coleção Cara-da-Tábua.

Tem modelo de shape lançado em Curitiba ou região? Manda pra nós e conta sua história!

Prefiro ‘esporte’ do que ‘brinquedo’”

Comecei a andar em Niterói/RJ, aos 11 anos em 87. No Rio a cultura do skt era bem diferente de Curitiba. Lá todo mundo surfa e anda de skt de forma ocasional e, no meu caso, não foi diferente. Comecei a surfar por influência do meu irmão mais velho, André, que surfa um monte até hoje. Ele e alguns amigos começaram a andar no surfstyle e eu fui com meu pai comprar um presente de natal que seria uma roupa de borracha. Não tinha e precisava escolher algo, então pedi um skt e aí começou tudo. Logo nos primeiros dias fui com meu irmão e uns amigos do prédio andar na rua, fui descer uma pequena rampa de garagem e quebrei o braço feio, os dois ossos do braço direito. Foi um trauma que me marcou para a vida toda…ficava no verão do RJ, com braço engessado e tentando entrar no mar sem molhar o gesso, enfim tudo zoado.

Fabio Lango , Rodrigo Careca, eu, Gustavo e André Cavalo – galera do Campo de São Bento, Niterói.

Aí fui me envolvendo cada vez mais com o skt e meu irmão só surfava, à partir daí comecei a ter meus amigos mais próximos ligados ao skt e foi quando fui no Campo de São Bento, uma praça local, e vi o skate street real ao vivo pela primeira vez. Vários caras andavam demais. Fiquei super impressionado, um deles era o Gustavo Black, hj Black Allien. Até hj foi um dos caras que mais me impressionou ao vivo. Depois desse dia, skt estava na alma e era street de verdade. Encontrava os caras no Campo e saía para andar o dia inteiro na rua. Quando batia a fome, pedíamos um pão “bisnaga” na padaria pra dividir entre nós e tomava água da torneira. Meu apelido vem daí. Quando cheguei em Curitiba em 92, fui repetir o processo numa padaria perto do Meracadorama, na frente de uma banca, e os caras não aguentaram, me zoaram demais. Acho que foi Salsicha que botou o apelido.

Aqui em Ctba, logo cheguei, e o primeiro pico foi o Gaúcho. Ali conheci toda a galera local rápido, Sal, Postal, Japa, Cajé, Turko, entre outros. Quando cheguei aqui, a cultura do skt era mais forte. Só andava com quem andava de skt, as baladas, as marcas e depois toda a sena dos campeonatos. Tudo nascendo aqui. Achei maravilhoso. No RJ praticamente não existia nada disso. Subcultura total. Aqui já tinha uma estrutura, o pessoal levava skt mais a sério, pensava em patrô, campeonato. Era realmente outro mundo. Até as minas gostavam da gente. Surreal demais.

Júlio Japa, Sal, Cajé, Turko, Potal, Gerson e Eu.
Eu e Rafael Braciak
Shape “Bisnaga”, 1992.

Nunca me dei muito bem nos campeonatos, mas andava muito. Me dediquei de verdade por uns 10 anos eu acho. No meio desse período veio o primeiro patrô pela Vândalo e esse shape. Não lembro de ter pego vários models, esse aí eu segurei. Nessa época da Vândalo faziam parte da equipe eu, Fabio black, Ricardinho, que era uma criança, e o Kamau. Pelo que lembro, eu e o Fabio tivemos o model pela marca. O dono era o Vitinho, sangue bom. Acho que era de Telêmaco Borba, amigo do André Barba.

A minha cultura de skt é o skt Punk. Muita influência de som pesado, andar no gás, na rua e sem regras, fazendo o que desse na cabeça. Isso vem muito da galera de Niterói também. Os caras de lá realmente moldaram meu jeito de andar, dentre eles Lango, Banana, Rodrigo Careca (é um baita pintor hj em dia e faz umas artes com skt, mora SP e é um grande amigo até hj, assim como os demais). Eu realmente amava andar com essa galera, mas Ctba dominou completamente minha alma e logo de cara fiquei uns 5 anos sem voltar pra Niterói. Depois fiz parte da Change como amador, por um período, correndo os campeonatos no Paraná. Essa base de influência do skt punk me moldou e depois a cultura foi mudando muito para o rap, mas nunca me identifiquei da mesma forma. Na real não curtia muito. Skt pra mim era rua, gás, muito ollie e som pesado, tipo Ratos de Porão e Sepultura. Até hoje considero como as principais bandas nacionais e Sepultura como uma das principais da história global. Então, considero que esses ciclos culturais fazem parte do skt e cada um se identifica com uma linha e não precisa mudar porque o ciclo passou. Eu mesmo continuo fiel ao skt punk.

Sobre ser esporte, acho que sim, hoje pode ser chamado de esporte. Prefiro esporte do que brinquedo, como era visto na minha época. Também prefiro o skt enérgico, sem me preocupar quantas vezes ele girou, para qual lado e se estava de frente ou não. Não interessa. O importante é fazer com vontade e voltar do jeito que der. Hj existe esse ciclo das olimpíadas, high performance. Não me identifico. Por ex. Street League nem consigo ver, não vejo graça, não me identifico. Nunca aprendi a andar em pista direito. Sempre precisei embalar pra manobrar, então, pista sempre foi pra encontrar os amigos e vazar. Uma pena que ctba sempre foi precária de lugares na rua. Nesse quesito o RJ sempre foi paraíso.

Eu com meu Pai.

@ganamlb @moldurariamomento

Curitiba, 2014.
Curitiba, 2014.

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Cara-da-Tábua

Exposição Virtual Cara-da-Tábua, de Decks de skatistas de Curitiba.

Projeto organizado pela Jorle que traz a reunião de diversas imagens de “models” do pessoal de Curitiba. O que chamamos de “models” no ambiente do skate é o conjunto de forma, ou corte, do “shape” junto com a arte estampada na face inferior. Por tradição no “esporte” os skatistas, quando fazem parte de alguma equipe, ou representam alguma empresa do ramo do skate, tem seus próprios “models”, ou seja, definem exatamente como querem o recorte da madeira e as características de altura e forma de ‘nose’, ‘tail’ e ‘concaves’ e fazem, ou convidam algum artista para fazer, o projeto gráfico estampado. Esta é uma importante característica que revela uma vasta cultura, expressão e modo de viver por trás da atividade física ou competitiva. Muitas vezes a arte estampada no “shape” representa um ponto de vista político ou cultural, ou mesmo reflete preferências estéticas ou pessoais do skatista. De qualquer forma, é uma maneira de skatistas profissionais e amadores se comunicarem com sua comunidade e com o mundo externo, para o qual o skate e sua cultura seguem como algo curioso e bem particular.

2 comentários em “A história de Marcelo “Bisnaga” e seu model de shape. Agora na exposição virtual Cara-da-Tábua

  1. Karaaai Bisnaaa!!! Lembro de uma noite em que a gente tava descendo a canaleta do expresso na República Argentina no gás e você começou a lançar uns 6, 7, Ooitooo kickflips 360 perfeitos, altos, colados, sem medo de errar e na sequênciaaaa!!! Só parou porque tava vindo Busão dos dois lados e a gente ia ser prensado na lata do bumba! Dimais ter sido skatista ao teu lado.

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