STT: Entrevista com a Banda Cérebro de Galinha, puro talento underground do Pará 5 de abril de 201716 de maio de 2017 Ricardo Goswod Uns dias atrás um amigo (Roger Robert) compartilhou um vídeo onde aparecem estes caras tocando um hard core bem nervoso, de sonoridade muito boa, ensaiando em uma salinha precária e usando o que têm às mãos. E ainda com um nome de banda ótimo! Assisti ao vídeo (veja mais abaixo) e a sensação de empolgação foi imediata. O contexto é, como disse o Roger, muito “de raiz” e dá a impressão de que toda informação de um país em convulsão agitou as cabeças desses caras e tudo transbordou na forma do “Cérebro de Galinha”. Entrevistei, via internet, esses meninos de Marabá, no Pará: puro talento underground! Jorle: Caras… se apresentem… quem é quem e faz o que na banda e da vida… Cérebro de Galinha: A formação é a seguinte: Cego-Vocais; Mort-Guitarra; Torrada-Baixo e Suco-Batera. Na banda todo mundo ajuda nas composições. Na vida? O Cego vende tira gosto na noite, andando de bar em bar, eu (Mort) só estudo por que tô desempregado, o Torrada trampa e faz faculdade de ciências sociais, tem uma filha de 4 anos. O Suco é ajudante de funilaria e faz artes visuais na mesma federal que o Torrada estuda, também tem filho. O massa é que esse ano eu e o Cego passamos na federal também, eu ciências biológicas e o Cego ciências sociais. Jorle: Quando iniciaram a banda, tinham que idade? E o que passava pela cabeça de vocês e sobre a ideia de ter uma banda? E sobre o nome que deram? Cérebro de Galinha: Cara, eu e uns brothers acompanhávamos o ensaio da banda do Suco e do Torrada no Infernin (antigo lugar de ensaio e onde a CDG nasceu), eu não tocava nada, daí o Suco deu a idéia da gente montar uma banda, aprender a tocar e meter o loco haha. Conheci o cego e uns caras e a gente começou sem saber nada. Os caras da MHC (banda do Torrada e Suco) deram a maior força. Daí a gente ficou sem batera e Suco falou que segurava as pontas. Até então a banda era Cego, vocal; Mort, Guitarra; Moska, bass e Suco na batera. A gente compôs umas 12 músicas, e teve a ideia de gravar, a gente gravou com o Torrada no quarto dele, só com um notebook, sem amp e sem interface, usando um simulador no PC haha. O Torrada gravou a linha de baixo por que o Moska foi embora da cidade, e desde então o Torrada fez parte da banda, outros caras passaram depois pelo baixo mas o Torrada acabou voltando. Video gravado em 19 de junho de 2015, no Cafofo. Jorle: Todos que assistem seu vídeo (Mundo em Caos) ficam muito animados com o rock puro e bruto ressurgindo entre as novas gerações. Como está sendo essa procura pela banda? Cérebro de Galinha: Cara, a repercussão foi um choque, a gente sinceramente não esperava, BR inteira pedindo pra gente colar, e uma galera da América latina. Inclusive quem estiver lendo essa reportagem, chama nóis, a gente quer trabalhar hahaha Jorle: Esse lugar onde o vídeo foi gravado, onde fica? Como é e porque aí? Cérebro de Galinha: Cara, como foi dito, a gente começou no Infernin, um barraco de madeira forrado por dentro com papelão pra dar uma abafada, onde nasceram e morreram algumas bandas da cidade. O dono que cedia o barraco vendeu o terreno e a gente passou a ensaiar na casa de amigos, quintal de vizinhos… daí um vizinho do suco cedeu uma construção inacabada pra gente ensaiar, a gente jogou uma brasilit no espaço que a gente ia ficar e batizou de Cafofo. Pra energia a gente faz um gato e leva uma extensão, todo domingo tem som. Jorle: Eu nunca estive nem perto do Pará, e as coisas que conheço daí estão muito próximas do que se vê na TV, como música Brega POP e tudo ser muito distante geograficamente. Como são as coisas por aí e como tiveram contato com uma cena “underground”? Existe uma comunidade forte local com bandas, jornais, shows? Cérebro de Galinha: Cara, a TV mostra o que quer mostrar. Geralmente a galera relaciona o Pará com Calypso, indígenas e mato. Aqui nem tem tanto indígena e mato assim, uma certa mineradora e as multinacionais fizeram e fazem questão de acabar com isso (palavras do Torrada). A cena? Acho que é como em todo lugar, correria, banda ralando pra gravar, e evento onde todo mundo se conhece haha. A diferença acho que é por que a região fica fora de qualquer eixo, tipo sudeste tem mais correria, nordeste tem banda massa que já tem intercambio com outros lugares. No Pará tem algumas bandas que já saíram pro mundo, tipo Madame Saatan que hoje ta em Sampa. Jorle: Notei um adesivo da banda Merda colado na guitarra e vi um vídeo de cover do Mukeka di Rato. Que mais como referência? Cérebro de Galinha: Cara, todo mundo na banda concorda que Ratos de Porão e Mukeka di Rato são uma das maiores influências, a gente curte e se influencia em várias bandas, mas quando essas duas tocam não tem como ficar parado haha. A gente até zua com o Torrada por que ele é vegetariano e come uma muqueca de banana, kkkkk. Jorle: O que faziam antes da banda? Que impacto causou em seu dia-a-dia? O que aprenderam ou viveram com isso? Cérebro de Galinha: Antes da banda… sei lá cara kkkk eu tinha 15 anos… falando nisso esqueci de falar a idade da galera. Eu (Mort) tenho 18, o cego tem 19, o Torrada ta quase com 23 e o Suco é o coroa da banda com 26 anos. Eu o Cego aprendemos a tocar na banda, o Suco e o Torrada vieram da MHC. A nossa visão de mundo mudou com a banda, a gente começou a ver melhor as injustiças do mundo e aprendeu a canalizar a raiva na música. Jorle: Como está a produção? Quantas músicas, demos, gravações. E os shows… tocam bastante? Já tocaram em outras cidades? Cérebro de Galinha: Cara, gravação a gente só tem a Demo produzida no estúdio “Quarto do Torrada Records”, que tem 12 músicas, sendo 11 autorais e uma versão de uma música da MHC. As tocadas, a gente já tocou em vários role aqui na cidade e em outras da região, como Altamira, Jacundá (PA) e Araguaína-Tocantins. Mas como todo fim de semana a gente ensaia, todo domingo é um role, a galera cola, toma um goro… kkk Jorle: Quanto à comunidade da região: sua música, atitudes e ideias causam impacto entre amigos, família ou conhecidos. Como vêem este contato? Cérebro de Galinha: Cara, a gente era conhecido entre amigos, daqui e de fora. Então geralmente quem acompanhava eram apenas amigos que sempre apoiaram a banda. A galera de Altamira e de Araguaína que a gente fez amizade. Galera foda pra caralho. Nossos familiares não entendem muito bem as mensagens. Não entendem sequer tudo que envolve a repercussão do vídeo. Fora da cena a gente é só uns loucos que fazem barulho saca, e dentro da cena na visão de outras bandas é bem parecido. Mas a gente ama o que faz. Jorle: Faltou alguma coisa que é importante ser dita? Cérebro de Galinha: A gente nunca fez entrevista kkkk não sabemos. Mas em nome da CDG queria agradecer a toda a galera que acompanha a banda e ajuda de alguma forma a fortalecer a cena e o espírito underground, que nunca deve morrer. E reforçar, arrumem trampo pra gente kkkk a gente quer tocar! Entrevista realizada em 02 de abril de 2017, com perguntas enviadas por Ricardo GosWod, pela internet e respondidas pela banda. Ajude a banda a gravar e melhorar seu equipamento colaborando na campanha do link: https://www.kickante.com.br/campanhas/projeto-cd-da-banda-cerebro-de-galinha-0 Outros links: https://www.facebook.com/cerebrodegalinhahc/ Músicas: https://www.palcomp3.com/Cerebro-de-galinha/ Videos: https://www.youtube.com/channel/UCb3lxjIpgRF78YHYNwt6nTA Compre camiseta da banda: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-853573009-camiseta-cerebro-de-galinha-cafofo-_JM #STT #cerebrodegalinha #hardcore #entrevista #banda #pará #crossover #grind #brasil #punk #cafofo #facavocemesmo #underground #culturaalternativa #contracultura #alternativo #DIY Ricardo GosWod: Marido de artista e pai de roqueiro progressivo. Skatista faz 25 anos. Depois de velho foi jogar rugby e estudar arbitragem. Escreve sobre o que lhe interessa: amigos espertos, música, skate, rugby, zines … Trabalha nas horas de folga com projetos gráficos visuais e geoprocessamento. Escreve a Coluna “Sem tempo pra trabalhar“.